ARS LITTERARIA revê-se no projecto ARS INTEGRATA e é parte integrante do mesmo. É um espaço de livre-pensamento e de debate de ideias, não possuindo vinculação a correntes estéticas particulares, nem filiação clubística, político-partidária, ou de cariz confessional, pelo que não assume qualquer comprometimento com os textos e opiniões expressas no seu blog como naqueles que divulga.
Contamos com a vossa colaboração. Para mais informação ver abaixo ou escreva para: arslitteraria@gmail.com

-

domingo, 26 de dezembro de 2010

ARS LITTERARIA (30): A visita do Menino, segundo Rui Zink

-
The enlightened boy (2010) / DZ


A visita do menino

Todos os anos neste dia acontece o mesmo. A visita do miúdo. É assim desde há uns cinco ou seis anos, não sei porquê. Quis saber, agora já não quero. Apenas aceito e agradeço mentalmente a dádiva concedida. A minha mulher diz que estou a ficar xexé. Eu discordo. Há coisas que uma pessoa sabe que são verdade mesmo com provas em contrário. Os factos não têm sempre razão. Se tivessem sempre razão seriam razoáveis. Não são. Quase nunca são, pois não?

O miúdo chega de manhã, ainda estamos na cama. Toca à campainha com insistência, a minha mulher irrita-se: “Quem será a esta hora? Não sabem que hoje ao menos uma pessoa tem direito a dormir mais um bocado?” Mas eu, já prevenido, vou de mansinho abrir a porta. E não é que o malandro do miúdo me prega sempre a mesma esparrela? Olho para a frente quando devia era olhar para baixo. Antes que eu dê por isso já ele se esgueirou e, com todo o desplante, dou com ele todo repimpado no sofá. Da primeira vez tive um sobressalto. Agora já me habituei e só se ele não aparecesse é que ficaria desapontado.

Estão a ouvir a campainha? Aí vem ele. A minha mulher resmunga: “Ó homem, para que é que te estás a levantar? Fica mas é sossegado.” Sossegado, uma ova. Às vezes esta mulher tira-me do sério. Sossegado? Terei muito tempo para estar sossegado quando estiver morto.

Abro a porta e ele entra. Parece mais novo que o ano passado. É natural. Já o ano passado parecia mais novo que no ano anterior. O mesmo ritual: esgueira-se-me por baixo do braço, como um grilo, e senta-se no sofá. Acende a televisão com o comando, inspecciona os canais: os desenhos animados, as notícias, a vida selvagem, o futebol, as séries, os concursos. A seguir desliga: “Eu já sabia, não dá nada de jeito. Para que servem tantos canais se não há nada de jeito, pá?

Da primeira vez protestei a sua monumental lata, e estranhei que ele ficasse mais tempo a ver as notícias que os desenhos animados. Afinal, um miúdo é um miúdo. Só que este miúdo sabe-a toda.

Isto está mau, pá. Já pensaste em quem vais votar? Ou és daqueles que já nem votam?

As crianças têm bicho-carpinteiro e cansam-se facilmente. Este menino passa rapidamente da política a assuntos mais sérios: “Queres jogar umas damas?

Da primeira vez que ele apareceu, não pudemos jogar. O que posso dizer? Desde pequeno que eu não jogava damas! E no entanto era uma das minhas melhores recordações de infância, jogar às damas com o meu pai. Mas agora já estou prevenido. E vou buscar o tabuleiro.

Após um par de partidas (que me deixa ganhar) ele faz um ar cúmplice:
Ouve lá, pá, não tens nada que se beba?

Hoje, também sei ser matreiro, surpreendo-o: digo que sim e dou-lhe um copo de sumo. Ele torce o nariz: “Eu disse uma coisa que se beba, pá.

Sorrio e lá desencanto uma garrafa, já aberta, de tinto alentejano. Não dos mais caros, mas Portugal tem isso de bom: com ou sem crise, há sempre vinho de qualidade a preços acessíveis. Ou não fôssemos nós a terra do sol grátis, do clima ameno, dos solos férteis. Até ver, claro. Mas tudo na vida é até ver. Depois, quando já não houver nada para ver, despedimo-nos. Como eu e o menino.

Ele leva com gosto o copo aos lábios. Sei muito bem que não se deve dar vinho às crianças. Só que este miúdo é especial. Nos últimos tempos, ele já não podia beber. A minha mulher era a mais severa: “Não lhe dês vinho, o médico proibiu-o terminantemente.” Eu ainda lhe passava um ou outro copo às escondidas, até que a tarefa clandestina se tornou impossível.

Ele devolve-me o copo e, nesse momento, os nossos dedos tocam-se. É bom. Uma pessoa poderia pensar que os dedos dele é que estariam frios. Não. Estão quentes. Os meus é que estão frios, o que é normal, agora sou eu quem tem problemas de circulação. Ele? Ele é um miúdo.

Tens tomado conta de ti, pá?”, pergunta. “Tens andado a pé? Olha que é importante andares a pé. É a melhor ginástica, pá.
Eu sorrio. Um miúdo a dar-me conselhos. Mas, claro, ele não é apenas um miúdo.

Da primeira vez não o reconheci. Como podia? Nunca tinha visto fotos dele em criança. E depois de perceber que ele não era uma ilusão, que era real, ainda perguntei: “É-és Jesus?”
Ele riu: “Achas-me com cara de treinador do Benfica, pá?

Na altura não percebi a piada, porque o treinador do Benfica ainda não tinha esse nome. Imaginem o meu baque quando a premonição se tornou realidade. (O meu baque este ano é pior: aquilo este ano nem com Jesus vai ao sítio.)

O meu pai era da geração do pá, pá para ali, pá para acolá. Todo o século passado português está contido nessa palavra que nem palavra é: pá. Dizem que é diminutivo (ou melhor, encolhitivo) de “rapaz”. Não sei. Pode também ser uma variante de Pã, o bom traquinas.

Por que me aparece o meu pai, precisamente neste dia, em formato menino e não adulto? Levei tempo, mas percebi. Acho que percebi. Afinal de contas, como deveria ele aparecer-me? Qual a idade certa para um pai voltar a visitar-nos uma vez por ano, antes que a família (primos, sobrinhos, netos) entre em balbúrdia por causa do almoço de Natal?

As nossas conversas nunca duram muito, como já não duravam muito enquanto ele estava vivo. Quanto muito, está menos chato. Mas suponho que é isso que acontece com a idade. Eu também estou mais chato agora do que antigamente.
Sei que não fui um grande pai, pá.
“Não foi dos piores.”
Vou tomar isso como um elogio, pá.
“Porque nos deixou?”

O menino meu pai fica sério: “Ó pá, eu não… O que te posso dizer? A vida é curta e quase mal sobra tempo para fazer asneiras, quanto mais as coisas certas.
“Agora perdeu-me.”
Estou a tentar dizer uma piada, pá.
“Sabe que nunca gostei muito das suas piadas?”
Tu é que nunca tiveste grande sentido de humor.
Ficamos a olhar um para o outro, até que ele diz:
Era uma piada, pá. Tu para meu filho nem te safaste mal.

Sorrimos. Eu, o adulto, ele, o garoto. Olha para as horas no relógio de pulso. Que ele não tenha um relógio no pulso é pormenor sem importância.
Bom, tenho de ir. Cuida-te, pá.
“Tu também, pai. Obrigado pela visita.”

Ele abre a porta e, antes de a fechar, piscando-me o olho, carrega no botão da campainha. De propósito, só para sarrazinar a minha mulher. Acho que ainda não lhe perdoou ter-se posto do lado dos médicos quanto à proibição do beber um copito.

Calculo o tempo que leva ao menino a descer as escadas. E, certo como um carteiro, lá vem novo toque à campainha, desta vez mais estridente e contínuo, mesmo só para chatear.

A minha mulher entra na sala, esgrouviada:
Que barulho foi esse? Quem tocou agora à campainha?
“Nada”, digo. “Deve ter sido algum miúdo.”

Rui Zink
in: Jornal de Notícias
(25 de Dezembro de 2010)
-

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

ARS LITTERARIA (29): Um conto de Natal, por Casp

-[Illumi] Natus Philosophorum, David Zink fecit MMX

Conto de natal, ou talvez não...
Na minha meninice quando ainda não pensava nem contestava, acreditei no natal, no pai natal, na festa da família e mais outras patranhas; recordo-me que, estando hospedado num orfanato com mais duzentos clientes, num desses natais fui considerado o mais bem comportado e como paga deram-me o melhor brinquedo que se encontrava no pinheiro; eu o melhor do ano? Eu que até tinha chumbado a 4ª classe? Eu que era um demónio quando me chateavam?

Achei aquilo tão estranho que mal chegado ao Quadrado (local aonde brincávamos), cá vai disto e o saxofone foi atirado contra a parede; atrás do saxo voaram carros, carrinhos e carretas contra os muros, foi assim comemorado esse natal e os seguintes levaram o mesmo caminho, mal ali chegávamos era tudo destruído, e que ninguém tentasse ficar com o brinquedo pois era-lhe retirado à força.

Acto de selvajaria? Talvez! Mas também talvez esta coisa de nos sentirmos sós no meio de tantos também devia pesar sem o sabermos, entendamos a coisa como um escape pois nem nos sentíamos mal depois da acção.

Mais tarde descobri porque me deram o saxo.

A Tia Rosa, cozinheira, chamou-me e disse-me, tenho um filho que tem o teu nome, Carlos Alberto da Silva Pedro, também fez exame da 4.ª classe um ou dois dias depois de ti, o chumbo era para ele, mas deixa estar tu és interno, ele não e tem de ir trabalhar para me ajudar. Ela o disse ela o sabia.

Eu realmente estranhei; na véspera do exame e como preparação psicológica a regente prometeu uma carga de porrada a quem trouxesse uma raposa, e não é que ela mandando-me chamar em lugar da prometida carga me disse que para o ano seria melhor!!! Revendo o exame até me correu bem; já escrevia mais ou menos bem, era bom em redacções e ditados, em História calhou-me o Viriato e o Sertório, na Geografia safei-me com os rios que nasciam em Espanha, na Geometria os ângulos, na Gramática as preposições que disse todas, nas Ciências falei dos ossos da cabeça; a minha professora estranhou o chumbo e por isso não levei porrada e deram-me o saxo que gentilmente arrumei contra a parede, o meu instinto de criança dizia-me que algo estava errado.

Muitos natais passei na praia de Santo Amaro de Oeiras, foram giros; era assim, comprava uma garrafa e um bolo-rei, chegado à praia acendia uma fogueira e passado pouco tempo aparecia malta conhecida e desconhecida e confraternizávamos até às quinhentas. Às vezes vou passar a casa de amigos mas eles que me perdoem, não gosto muito pois a tristeza não me deixa, com familiares a tristeza ainda é maior.
Hoje encaro o natal como um 1º de Abril ou como o Carnaval; o consumismo natalício é um desperdício, e que sentido faz um tipo ficar sem dinheiro até Janeiro!? Há bastantes anos que não dou nem quero prendas, de comer o costume na véspera e no dia, e anseio que as canções natalícias que começam a moer-me o juízo nos fins de Outubro acabem.

Quem não gosta não estraga, quem está longe da terra entendo que se encontrem, só nunca entendi porque morre tanta gente no caminho, quem está perto não necessita de dia especial para se encontrar, qualquer dia é dia, sendo que considero o dia do meu nascimento, 2 de Janeiro o mais importante; nesse dia ando mesmo feliz e agradeço aos meus pais que não me conheceram nem os conheci o meu ocasional nascimento, ou será que julgavam eu ser filho de Marcianos?

Nov.2010Casp
-

domingo, 14 de novembro de 2010

ARS LITTERARIA (28): Conceição Caleiro recebe Prémio Pen Club

C.C. Islands (2010) / (re)designed by David Zink



O CÃO DE CONCEIÇÃO CALEIRO


O romance de estreia de Conceição Caleiro – O Cão das Ilhas. Lisboa: Ed. Sextante, 2009 –, acabou de ser galardoado pelo P.E.N. Clube com o prémio «1.ª obra».

Na verdade, Conceição Caleiro, habitualmente dedicada aos campos do ensaio e da crítica literária informada, e animadora de comunidades de leitores, ousou saltar a barricada da escrita criativa, estreando-se na «arte do romance» (Kundera) e fê-lo com grande eficácia, ora certificada no reconhecimento pelos seus pares e pela atribuição deste prestigioso prémio..

Importa notar que a autora é uma conhecida especialista da obra de Clarisse Lispector (tema da sua tese de mestrado), e últimamente da obra de Maria Gabriela Llansol - donde vislumbramos ecos no título ("amar um cão"), no uso do pronome comum "Maria" e julgamos que no conteúdo - muito embora o sentido do trágico colocado na primeira pessoa na obra das mencionadas autoras em Caleriro seja deslocado para a 3.ª pessoa, o "herói".

A obra em questão fora já merecedora de substantivos artigos críticos – nem todos encomiásticos, é certo – mas, ainda assim, a provar que a mesma não passara despercebida e tinha substância literária suficiente para merecer o esforço da análise e o espaço mediático.

Nomeadamente, Helena Vasconcelos, refere no Público que «"O Cão das Ilhas" é um livro surpreendente e poderoso, uma tragédia clássica, com fontes gregas e shakespereanas, a primeira obra de uma autora que escreve com segurança e mestria. A construção da narrativa, a utilização de uma voz (principal) masculina e de três vozes femininas, a passagem de umas para as outras com agilidade e autoridade, a beleza quase onírica de certas imagens fazem deste livro uma obra excepcional, com ecos do Antigo Testamento, da tragédia grega, de Ovídio e de George Bataille. Caleiro tanto descreve cenas prosaicas como outras de uma enorme intensidade erótica e dramática, conjugando o carácter realista e os aspectos simbólicos com extraordinária habilidade e dando espaço para um realismo cruel aliado a um ritmo poético encantatório. [...] Romance sobre a escravidão feminina física, emocional e moral [...] é, também, uma história sobre a repressão e o medo, sobre o exílio e a solidão, acompanhando o ritmo de Rafael, esse "cão das ilhas", leal, bravio e livre».


Já H.G. Cancela, em "contramundumcritica", embora reconhecendo que se trata de um «texto cuidado e ambicioso» discorrendo que «Nesta perspectiva, Rafael é o herói intemporal, o amante ferido e escorraçado que agrega em si as sementes imparáveis da vingança. Anjo e demónio, para resumir, numa atmosfera que ao seu passar se contamina e, a passo e passo, condensa o germinar da tragédia quase anunciada», entende que se trata de um «Livro de errância» de cuja leitura releva «as passagens assumidamente eróticas e carnais, fulgurantes indícios de um mal-estar, cru e cruel, que acode aos sentimentos contraditórios do protagonista – nas suas relações, dir-se-ia não existirem afectos, antes ímpetos, não a calmaria do sentimento puro, antes a febrilidade do animal em sangue».
(in: http://contramundumcritica.blogspot.com/2009/10/maria-da-conceicao-caleiro-o-cao-das.htm )
No Expresso, Carlos Bessa, distingue que «O desejo é o leitmotiv do romance de estreia de Maria da Conceição Caleiro, polifónico, com páginas de um erotismo raro na literatura portuguesa. Desejo que traz, inevitavelmente, outras pulsões, como as do poder e da morte, que adensam a narrativa e a tornam aliciante. Particularmente a que decorre da acção de Rafael e de Pilar, ambos ilhéus, personagens e narradores, sendo ainda dois dos vértices de um triângulo amoroso e parte de um crime passional (o último capítulo é particularmente brilhante)». Mais conclui o mesmo crítico que «"O Cão das Ilhas" tem o dom de agarrar o leitor e o conduzir, debaixo da toada tensa e vibrátil da escrita, entre São Miguel, Paris e Lisboa, mostrando que qualquer vida é um corolário de vozes, de enigmas e de pulsões, cujo fim raramente é cristalino».
(in: http://aeiou.expresso.pt/critica-de-livros-de-15-a-21-de-agosto=f530391 )

Posto isto, aqui fica o desafio à sua leitura.
-

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

ARS LITTERARIA (27): Histórias de encantar, de Luísa Ducla Soares

- Luísa Ducla Soares in the garden of stories (2010) / David Zink


SEMPRE A ENCANTAR OS MAIS JOVENS!


A escritora Luisa Ducla Soares continua a surpreender-nos. No passado dia 7 do corrente mês de Novembro, foi feito o lançamento de mais duas reedições de obras de literatura infantil da escritora Luisa Ducla Soares, no auditório da FNAC Colombo. A apresentação esteve a cargo do também escritor António Torrado.


António Torrado lembrou que a primeira obra – História da Papoila – datava de 1973, altura em que lhe tinha sido atribuído o Prémio “Maria Amália Vaz de Carvalho”, o qual a autora recusou. Luísa Ducla Soares explicou que o prémio era atribuído pelo Secretariado Nacional de Informação, entidade que também exercia a função de censura no nosso país… Daí a necessidade de coerência que tinha sentido e a tinha levado a não o ter aceite - num acto de coragem, como sublinhou o apresentador!

Mas este seria apenas o primeiro prémio a ser-lhe atribuído. Depois disso, recebeu o Prémio Calouste Gulbenkian para o melhor livro de literatura para a infância do biénio 1984- 85 por 6 Histórias de Encantar. Mais tarde, veio a ser galardoada, em 1995, com o Grande Prémio Calouste Gulbenkian pelo conjunto da sua obra. Em 2004 foi seleccionada como candidata portuguesa ao prémio Hans Christian Andersen, do IBBY (International Board on Books for Young People), geralmente considerado o Prémio Nobel da Literatura para a Infância.

Publicou mais de 80 obras de literatura. Escreveu guiões televisivos, preparou diversos sites na Internet, e em 1999 foi editado um CD com poemas seus musicados por Susana Ralha.

Participou, ainda, na revista didáctica Rua Sésamo (1990-1995). A UNICEF e a OIKOS organizaram, em 1990, uma maleta pedagógica baseada no conto “Meninos de Todas as Cores”, da sua autoria, como apoio ao projecto escolar e exposição “Um Mundo de Crianças”.

Esta nova edição é acompanhada por ilustrações muito coloridas – de Sandra Abafa - que levam qualquer criança a voar no imaginário, para além das palavras que a autora lhe propõe, numa simbiose perfeita que a mim, adulta, me deixou perfeitamente deliciada! Nele se conta a história de uma sementinha de papoila levada pelo vento, que vai ter a uma grande cidade...

O segundo livro – O sultão Solimão e o criado Maldonado - conta em verso a vida de um sultão e do seu criado. Com sentido crítico mas também com muito humor, como é seu hábito, Luísa Ducla Soares chama a nossa atenção para as desigualdades que a sociedade cria entre os homens, preocupação que está sempre subjacente às suas obras.

Clara Castilho

-

domingo, 11 de julho de 2010

ARS LITTERARIA (26): Homenagem a uma Rosa... Matilde Rosa Araújo (1921-2010)

-

L'Important c'est la rose! In memoriam Matilde Rosa Araújo / David Zink (2010)


MATILDE ROSA ARAÚJO (20.06-1921-06.07.2010)

1) Matilde e eu


História do senhor mar - Foi através deste poema que entrei na primeira fase das minhas relações com a Matilde – a forma como os escritores se dão primeiro a conhecer – pela publicação dos pensamentos/emoções que querem partilhar com os outros. Esta foi a poesia escolhida de “O livro da Tila” para eu dizer, andava ainda na primária, num palco de uma vila (Belas), junto do adro da igreja, na festa anual. Vestidinho branco, como mandava o figurino da época, fitinha no cabelo…

A segunda fase foi a de a ver em minha casa, já amiga de minha mãe, companheiras de acções conjuntas na Ludus (década de 70, para lembrar o direito de brincar, facilitar o acesso ao livro, os primeiros passos da ludoteca/biblioteca).

Numa terceira fase, a partir de 1990, começámos a ser parceiras de iniciativas no Instituto de Apoio à Criança. E a minha foto a declamar o seu poema serviu de tema de paródia.

Sempre me elogiou em tudo o que fazia, deixando-me atrapalhada com tanta benevolência. E não posso esquecer o belíssimo texto que publicou sobre minha mãe, quando ela faleceu, no Jornal de Letras (8.3.94). Generosa em tudo!

Das minhas prateleiras posso tirar "O Palhaço Verde", "O Sol e o Menino dos Pés Frios", "História de uma Flor", "O Gato Dourado", "As Botas de Meu Pai", "As Fadas Verdes" e "Segredos e Brincadeiras" e "A saquinha da flor". Todos com as suas lindas dedicatórias, letra bem desenhada, como ela gostava de fazer. “Gosto de desenhar a letra. A letra tem uma beleza como a palavra tem uma música” (escrevia à mão e depois passava à máquina).

As suas histórias estão cheias de ternura, de ironia, também de realismo sobre a vida de muitas das nossas crianças. Mas também era capaz de escrever: “Limpemos esta floresta que somos. Não queiramos, não consintamos a imolação pelo fogo de muitos de nós. Não consintamos olhar mais a humanidade como vítima de uma morte violenta que quer vingar sabe-se lá que deus menor. Ou sabe-se demais. Porque ela pesa. É de metal” (in: Boletim do IAC - Instituto de Apoio à Criança, n.º 16, Novembro-Dezembro de 1991, p. 1).

Tenho em mãos uma publicação sobre “A Criança e os Direitos Fundamentais”, onde também faço uma reflexão sobre o impacto em Portugal do Ano Internacional da Criança – 1979. Por ela ter pertencido à Comissão Nacional para a organização de iniciativas, pedi-lhe recentemente um depoimento, que ela termina desta forma: “Parto com saudade de um futuro que não viverei mas que tenho a certeza de poder sonhar. Parto com esperança”.

Arrepiei-me toda quando recebi a sua carta. Respeitei o seu sentir premonitório. Mas não fui capaz de lhe responder. E ela se foi com o meu silêncio acobardado.

Quem tem filhos, netos, trabalha com crianças, façam o favor, corram a comprar os seus livros. Só ficam a ganhar!


Este beijinho da Matilde é generalizado a todos, tal era a sua capacidade de receber o Outro, de o aceitar, de perdoar.


2) Matilde e todos nós

Morreu a escritora Matilde Rosa Araújo com 89 anos.

Nasceu a 20 de Junho de 1921, em Lisboa. Licenciou-se em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica (1945) com uma tese em que o jornalismo era objecto de análise académica. Foi professora do primeiro Curso de Literatura para a Infância na Escola do Magistério Primário de Lisboa.

Desde cedo preocupada com os direitos das crianças, tornou-se sócia fundadora do Comité Português da UNICEF e do Instituto de Apoio à Criança.

A sua estreia na literatura teve lugar em 1943 com "A Garrana", uma história sobre a eutanásia com a qual venceu o concurso "Procura-se um Novelista", do jornal O Século, em cujo júri de encontrava Aquilino Ribeiro.

Na literatura para crianças, o primeiro título publicado foi "O Livro da Tila" (1957) - escrito nas viagens de comboio entre Lisboa e Portalegre, onde dava aulas a crianças jovens. Estes poemas foram musicados por Lopes Graça.

Os seus livros foram ilustrados por Maria Keil e outros e, mais recentemente, Gémeo Luís e a João Fazenda.

Em 2009, foi publicada a obra "Matilde Rosa Araújo - um olhar de menina", uma biografia romanceada da escritora com texto de Adélia Carvalho e ilustração de Marta Madureira.
Matilde foi membro da Sociedade Portuguesa de Escritores (actual APE). Ocupava um cargo directivo quando foi premiado o angolano José Luandino Vieira, então preso no Tarrafal. Foi motivo para a PIDE invadir as instalações da Sociedade e demitir a direcção. Estávamos em 1965. Matilde falava disto com a sua habitual ironia ….

Em 1980 recebeu (ex-aequo com Ricardo Alberty) o Grande Prémio de Literatura para Criança da Fundação Calouste Gulbenkian. Em 1991, recebeu o Prémio para o Melhor Livro Estrangeiro da Associação Paulista de Críticos de Arte de São Paulo, Brasil, por "O Palhaço Verde". Em 1994 voltou a receber o Prémio da Gulbenkian pelo livro de poesia "Fadas Verdes". Em 1994, Matilde Rosa Araújo fora nomeada pela secção portuguesa do IBBY (Internacional Board on Books for Young People) para a edição de 1994 do Prémio Andersen, considerado o Nobel da Literatura para a Infância.

O Presidente da República Jorge Sampaio condecorou-a em 2003. Nesse mesmo ano a Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) decidiu, por unanimidade, atribuir-lhe o Prémio Carreira (entregue em Maio de 2004), pela sua "obra de particular relevância no domínio da literatura infanto-juvenil ". Nessa altura, ela afirmou que “os jovens lhe ensinaram uma espécie de luz da vida", porque "o seu olhar é de uma verdade intensa e absoluta".

E à Sociedade Portuguesa de Autores voltou, no passado dia 6 de Junho, para que lhe pudéssemos dizer o último adeus.

Pode ser consultada mais informação em:
http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/

CLARA CASTILHO

-

domingo, 4 de julho de 2010

ARS LITTERARIA (25): Rui Zink escreve sobre Luisão

-
Mote e Rima:

«COM LUISÃO, BENFICA CAMPEÃO!»

A propósito do grande tema do momento - a vitória do Benfica no Campeonato Nacional de Futebol (que se lixe a crise, o maior dos clubes portugueses e porventura um dos maiores clubes do mundo em número de adeptos, acabou de dar uma grande alegria a todos estes) - o Diário de Notícias entendeu publicar uma revista especial comemorativa do acontecimento, e, por feliz ideia, convidou vários escritores para deporem sobre os jogadores da equipa vitoriosa, como que a provar que a intelectualidade lusitana não é alheia ao chamado desporto-rei, e que este é perfeitamente capaz de inspirar grandes momentos de criatividade para além das jogadas em campo.

Ars Litteraria, que não vai em "futebóis" enquanto forma de alienação colectiva mas reconhece a beleza do desporto, esteve atento e pediu ao escritor Rui Zink que nos cedesse o seu belo texto sobre o jogador que glosou: o Grande Luisão.

Ei-lo aqui (e é claro, segue o nosso conselho para que corram às bancas para adquirir uma revista que - despidos os preconceitos - ficará nos anais da história da literatura em Portugal (tal como a fabulosa "Sinfonia Benfica" do compositor António Vitorino de Almeida, a qual sendo - inequivocamente - uma das melhores obras sinfónicas de sempre produzidas por compositores portugueses -, por estranho que pareça não está à venda na loja do clube).


Lui-Zão [2010] / (re)designed by DZ


LUISÃO
: uma girafa humana diferente de Charles de Gaulle
/ por Rui Zink


Falam, não falham, as estatísticas: Luísão apenas falhou, este ano, os jogos que não o deixaram jogar. Falou, Luisão! Ao longo de toda a época, foi “uma das três peças firmes” na sacrificada equipa do Benfica. Confere respeito. Mas não é só pela sua arte e fiabilidade que se mede Luisão. É também por algo que podemos ver em campo e que não podemos ver mas também sabemos existir no balneário: carisma. O carisma não é fácil de conseguir: uns têm, outros não têm. É natural, mas dá trabalho. Tê-lo é apenas o princípio das coisas. Saber formatá-lo é a sequência que nem todos conseguem.

É a diferença entre ter autoridade e ser autoritário, entre firmar uma posição e perder o pé. Quando, na primeira mão com o Liverpool (a única de que me lembro), Luisão leva com a mão malandra de Babel na cara (uma provocaçãozinha que, no calor do momento, geralmente resulta), o tiro saiu pela culatra e foi o jogador inglês que levou guia de marcha. Toda a experiência, ciência, presença de Luisão estava ali. Ele nem precisou de pensar, para pensar a coisa certa: “Esquenta não, moleque, cabeça fria, cabeça fria.” É por estas fico sem entender quando na Selecção vejo fedelhos imaturos com a braçadeira de capitão. Porque Capitão, para mim, é Luisão. Como há quarenta anos o era Mário Coluna.

O girafa humana original era o general De Gaulle, um homem tão monumentoso e autocentrado que sobre ele ainda se conta que, um dia, a esposa entrou no quarto estava ele nu e exclamou: "Oh, Mon Dieu!" Ao que De Gaulle respondeu: “Querida, sabes que entre nós podes chamar-me Charles.” Luisão nunca proporcionaria uma piada destas, porque é outro tipo de girafa humana. Não se acha o maior, apenas sabe que tem de ajudar a equipa a jogar o melhor que as circunstâncias permitem. Geralmente consideramos que o verdadeiro artista é o jogador de ataque e o defesa está lá apenas para “obstaculizar”. Não é bem assim: avançado e defesa de equipas contrárias são rivais mas, também, parceiros de dança, como Liedson e Luisão, verde e vermelho, são adversários e amigos. O defesa não está lá para impedir o avançado de brilhar, mas para lhe dificultar a vida. Ou seja, para o ajudar a brilhar. Porque no dificultar a vida é que está o ganho. Sem grandes defesas, não haveria grandes avançados. Luisão é por vezes batido? Claro que sim. Mas ele vai obrigar o avançado contrário a esforçar-se, a dar o seu melhor. Mais do que patrão da defesa ou capitão da equipa, ele é o padrão pelo qual todos os jogadores se deviam medir: mais alto, mais forte, mais sereno. Imagino-o no balneário a motivar os colegas: “Gente, hoje até podemos perder, mas eles vão ter de dar o seu melhor para o fazer.”

Houve muitos momentos memoráveis neste campeonato. É a prova mais nobre, porque é a mais longa. Todas as equipas jogam duas vezes com todas as outras equipas. É o teste que menos depende da sorte de um dia bom, ao contrário da Taça, que também tem o seu encanto, mas se assemelha mais a uma lotaria. Pois para mim, o momento decisivo deste Campeonato Nacional (ainda não me habituei, acho que nunca me habituarei, a chamar-lhe Liga Cergal) foi precisamente o último jogo com o Nacional, na Madeira. A equipa estava cansada, havia nevoeiro, a tragédia recente fazia com que o jogo fosse mais emocional que de costume, o Benfica estava a dominar, mas sem pontaria. Tudo apontava para uma derrota, pois um empate é uma derrota desde que, em boa hora, os americanos inventaram a vitória por três pontos. Eis senão quando, qual Liedson, Luisão resolve. Foi ali que eu murmurei para quem, na tasca do Rafael e da Cristina, me queria ouvir: “Acho que foi aqui que o Benfica ganhou o campeonato.” Podia tê-lo perdido ali. Não perdeu. Luisão resolveu.

Por que motivo puxo por duas vezes (três, agora com esta frase) pelo nome de Liedson? Porque li algures que os dois fora do campo são amigos e desejam o melhor para a carreira do outro. E encanta-me que, precisamente, nos derbies eles sejam não só rivais, por causa das equipas, mas parceiros mesmo num duelo que se arrasta e promete continuar no próximo ano lectivo. No boxe este tipo de amizade não é incomum: o sul-africano Botha e o afro-americano Holyfield comeram um bife juntos dias antes de se massacrarem no ringue. Talvez por ser mesmo um jogo de homens, e não de rapazes, o boxe tem poucos ódios que passam para lá das cordas. Já no futebol português não parece ser assim. O rancor dura e dura e dura… Apagada e vil tristeza, diria Camões, se fosse fã de futebol. E, se fosse fã, talvez até fizesse um soneto a Luisão. Algo como:

Transforma-se o amador na coisa amada
Por virtude do muito imaginar
Luisão, tu até com a bola parada
Sabes que o jogo é muito mais que ganhar.

Contigo a partida fica mais calibrada
E se Saviola, Di Maria, Cardoso, Aimar
Pura e límpida arte são, a atacar
Tu não menos arte és – à retaguarda.

Pois no jogo que é vida, sorte e drama
Patrão és da defesa, da equipa Capitão
E defesa que ataca – e faz xeque à dama.

Tu todo águia és, em alma e coração
Não, não és só o nosso Girafa Humana
És também o firme, o bom, o leal Luisão.
Rui Zink
in: Benfica, o renascer do culto. Diário de Notícias, Maio 2010, ISSN 0870-1954, pp. 38-39


Sinfonia n. 1, op. 21 «Benfica»
, de António Vitorino de Almeida (1940-)
(excerto)
-

domingo, 27 de junho de 2010

ARS LITTERARIA (24): Criança, uma obra em aberto... - uma hora com Saramago, por Clara Castilho

-

CRIANÇA – UMA OBRA EM ABERTO


“Uma hora com…. José Saramago”

Só estive com José Saramago uma vez. Estava preparando o II Encontro do Centro Doutor João dos Santos – a que chamámos “Transições - da 1ª infância à adolescência”e se realizou em Junho de 2000 - e quisemos terminar um dos dias de uma forma mais informal, trazendo alguém, só para “conversar”, naquilo a que demos o nome de “Uma hora com…” (ideia que pegou e hoje vejo em muitos congressos e encontros). E alguém pensou no José Saramago. Não me lembro bem porquê. E lá lhe mandei um email… Ele acedeu a vir, acabei por não perceber a razão. Terá conhecido João dos Santos? Eventualmente. Só quis saber onde e a que horas o queríamos. E lá chegou a horas, sentou-se com aquele ar sério, conversou e foi-se embora. A verdade é que a sala estava cheia, num fim de tarde, bem tarde…

A conversa está publicada nas Actas desse Encontro. Dela transcrevo:

«… A verdade é que eu não me preocupo assim tanto com as crianças, por muito chocante que isso possa parecer. Aquilo que me preocupa é o ser humano… A criança é um momento da vida do ser humano. O pinto é um momento da vida da galinha ou do galo, o cachorro é um momento da vida do cão, somos momentos. E além disso, quando é que a criança começa? ….Mas a pessoa é uma só, a criança interessa-me na sua relação com o lugar onde está, com as pessoas com quem vive, de quem é beneficiária, ou de quem é vítima. Essa tendência que passou da criança-mártir à criança-rei, isso é um lugar comum, mas que no fundo corresponde a esta realidade. …. De que crianças estamos a falar? Das desprotegidas…? Há uma altura em que nós não podemos resolver o problema das pessoas, individualmente consideradas, se não dermos uma volta à sociedade em que estamos a viver…. E isto tem uma relação íntima com aquilo que eu disse, quando digo que a criança que eu fui é tão minha hoje, como eu não era dela então, porque eu ainda não tinha crescido. Mas eu conservo essa criança ...».

Quando fui visitar a exposição sobre ele, no Palácio da Ajuda, em Abril de 2008, vi lá um filme, feito a partir de um livro infantil. Mais tarde começou a correr entre emails. Pode ser encontrado no youtube – “a flor mais grande do mundo José Saramago”. Uma outra forma de o recordarmos.
Clara Castilho


-

domingo, 21 de março de 2010

ARS LITTERARIA (22): O Anibaleitor : reedição de uma obra-prima da literatura universal




Uma das obras-primas da literatura universal de expressão portuguesa (podemos dizê-lo sem rodeios, sendo que já o fundador da publicações Europa-América, Francisco Lyon de Castro, afirmava publicamente há anos atrás que o escritor em causa iria ser o próximo Prémio Nobel português), o Anibaleitor, de Rui Zink, cuja 1.ª edição de há muito esgotada saíu com a chancela da FNAC em edição comemorativa do Dia Mundial do Livro 2006, volta a ser editado em Portugal, com algumas modificações, desta vez sob a égide da prestigiada Teorema, a editora que tem vindo a publicar os mais recentes livros do escritor. Pelo meio, contam-se traduções desta e doutras obras suas em várias línguas, inclusive esgotando sucessivas edições nalguns países, podendo falar-se de um merecido êxito internacional reconhecido pela crítica.



Trata-se de uma obra de uma grande inventiva meticulosamente construída (ou não fosse Rui Zink o introdutor em Portugal dos Cursos de Escrita Criativa) - de forma que somos impelidos a só parar de o ler quando chegamos ao final -, mas que se oferece simultaneamente como um hino à literatura e que, pelo seu estimulante didatismo criativo, se constitui como um magistral incentivo à literacia, e - Alô Dr.ª Isabel Alçada! - como tal devia ser de leitura recomendada nas escolas.



Concebido como uma parábola que tem como antecedente bibliográfico o Sermão de Santo António aos Peixes, do P.e António Vieira (1608-1697), desta feita em peculiar diálogo de uma criança com um estranho animal - o Anibaleitor - e que sem deixar de ser mordaz e irónico, constitui pelo seu enredo onírico de evidente ternura pela aventura humana, aqui exposta sob a relação entre uma criança e um "monstro", um contraponto apolíneo ao último "romance" do autor - O Destino Turístico - esse livro dionisíaco de uma genialidade ácida que reflectia sobre os caminhos da Era Bush. Ou seja: a despeito do nihilismo em que o mundo se vê mergulhado, entreve-se aqui uma porta para uma nova Era de Esperança, com uma clara mensagem: É pela cultura, e só mediante esta, que nos podemos salvar!


«(...) Levei as costas da mão aos lábios, com horror:
-Tu... Tu comes mesmo pessoas?

A criatura fez um ar modesto:

- Bem, o que posso dizer? Sou um freguês de muito alimento.

- A sério? Comes mesmo?

- Gosto muito, sobretudo de língua portuguesa...»

Ora, enquanto o Destino Turístico tinha os adultos como público-alvo, este Anibaleitor destina-se preferencialmente aos jovens, ainda que os adultos não deixem de poder maravilhar-se com ele, o que certamente sucederá (apostamos) com aqueles que o lerem com atenção.

Parafraseando um aforismo popular, se há certas iguarias que "são de comer e chorar por mais", este é certamente um daqueles livros que "são de ler e clamar por mais"!

ver convite para a apresentação pública em:

http://arsintegrata.blogspot.com/


Nota:

Rui Zink é doutorado em Literatura Portuguesa pela FCSH-UNL, Professor na mesma Faculdade e autor de vasta obra ficcional e ensaística. Desde que em 1987 publicou Hotel Lusitano, o seu primeiro romance, publicou já mais de três dezenas de títulos. Destes, destacamos Homens-Aranhas (1994), Apocalipse Nau (1996), A Espera (1998, rev. e aum. 2008), O Bicho da escrita (2004 - na shortlist do prémio Pushcart), Dadiva Divina (2004 - Prémio Pen Clube 2005), A Palavra Mágica (2005), O Anibaleitor (2006, rev. 2010), O Destino turístico (2008 - Prémio Ciranda 2009).

Para mais informação ver: http://ruizink.com/acerca-2/

-