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domingo, 21 de março de 2010

ARS LITTERARIA (22): O Anibaleitor : reedição de uma obra-prima da literatura universal




Uma das obras-primas da literatura universal de expressão portuguesa (podemos dizê-lo sem rodeios, sendo que já o fundador da publicações Europa-América, Francisco Lyon de Castro, afirmava publicamente há anos atrás que o escritor em causa iria ser o próximo Prémio Nobel português), o Anibaleitor, de Rui Zink, cuja 1.ª edição de há muito esgotada saíu com a chancela da FNAC em edição comemorativa do Dia Mundial do Livro 2006, volta a ser editado em Portugal, com algumas modificações, desta vez sob a égide da prestigiada Teorema, a editora que tem vindo a publicar os mais recentes livros do escritor. Pelo meio, contam-se traduções desta e doutras obras suas em várias línguas, inclusive esgotando sucessivas edições nalguns países, podendo falar-se de um merecido êxito internacional reconhecido pela crítica.



Trata-se de uma obra de uma grande inventiva meticulosamente construída (ou não fosse Rui Zink o introdutor em Portugal dos Cursos de Escrita Criativa) - de forma que somos impelidos a só parar de o ler quando chegamos ao final -, mas que se oferece simultaneamente como um hino à literatura e que, pelo seu estimulante didatismo criativo, se constitui como um magistral incentivo à literacia, e - Alô Dr.ª Isabel Alçada! - como tal devia ser de leitura recomendada nas escolas.



Concebido como uma parábola que tem como antecedente bibliográfico o Sermão de Santo António aos Peixes, do P.e António Vieira (1608-1697), desta feita em peculiar diálogo de uma criança com um estranho animal - o Anibaleitor - e que sem deixar de ser mordaz e irónico, constitui pelo seu enredo onírico de evidente ternura pela aventura humana, aqui exposta sob a relação entre uma criança e um "monstro", um contraponto apolíneo ao último "romance" do autor - O Destino Turístico - esse livro dionisíaco de uma genialidade ácida que reflectia sobre os caminhos da Era Bush. Ou seja: a despeito do nihilismo em que o mundo se vê mergulhado, entreve-se aqui uma porta para uma nova Era de Esperança, com uma clara mensagem: É pela cultura, e só mediante esta, que nos podemos salvar!


«(...) Levei as costas da mão aos lábios, com horror:
-Tu... Tu comes mesmo pessoas?

A criatura fez um ar modesto:

- Bem, o que posso dizer? Sou um freguês de muito alimento.

- A sério? Comes mesmo?

- Gosto muito, sobretudo de língua portuguesa...»

Ora, enquanto o Destino Turístico tinha os adultos como público-alvo, este Anibaleitor destina-se preferencialmente aos jovens, ainda que os adultos não deixem de poder maravilhar-se com ele, o que certamente sucederá (apostamos) com aqueles que o lerem com atenção.

Parafraseando um aforismo popular, se há certas iguarias que "são de comer e chorar por mais", este é certamente um daqueles livros que "são de ler e clamar por mais"!

ver convite para a apresentação pública em:

http://arsintegrata.blogspot.com/


Nota:

Rui Zink é doutorado em Literatura Portuguesa pela FCSH-UNL, Professor na mesma Faculdade e autor de vasta obra ficcional e ensaística. Desde que em 1987 publicou Hotel Lusitano, o seu primeiro romance, publicou já mais de três dezenas de títulos. Destes, destacamos Homens-Aranhas (1994), Apocalipse Nau (1996), A Espera (1998, rev. e aum. 2008), O Bicho da escrita (2004 - na shortlist do prémio Pushcart), Dadiva Divina (2004 - Prémio Pen Clube 2005), A Palavra Mágica (2005), O Anibaleitor (2006, rev. 2010), O Destino turístico (2008 - Prémio Ciranda 2009).

Para mais informação ver: http://ruizink.com/acerca-2/

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