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quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

ARS LITTERARIA (21): Revelação de um novo segredo de Fátima - crónica de Rui Zink

-Chanson d'amour sacrée et profane (2009) / David Zink


Obrigado, padre Rui


Finalmente uma boa notícia! Poucas coisas nos fizeram sorrir tanto nas últimas semanas como a fuga romântica, o rapto sabínico, o amor estouvado e cândido do padre Rui em Terras de Basto por uma moça de seu nome Fátima. Há semanas que todos pedíamos aos céus um motivo, um que fosse, para nos levantarmos da cama neste Portugal sucatinho, dissoluto, frio, estupidamente material. A história já virou lenda: os dois jovens apaixonaram-se secretamente na mansidão da catequese e, com a paciência que só os santos e os amantes têm, aguardaram que Fátima atingisse a maioridade. E só então fugiram, parece que para Espanha. Bom destino: Paris está muito visto, cheio de casais em escapadelas culposas, e a malta acaba toda por encontrar-se. A Espanha é mais recatada, sobretudo em época baixa.

O fascinante é que nem Fátima (hoje 18 anos) nem o padre Rui (28 anos) são, a acreditar nos relatos dos vizinhos, muito vividos. É pois um amor casto e puro, como aquele cantado na Ceia dos Cardeais, de Júlio Dantas, que, em seu tempo, fez furor na Europa. Como todos sabemos, trata-se de uma conversa entre três cardeais, o francês, o espanhol e o português, cada um contando suas aventuras de juventude. O francês é um sedutor, como todos os franceses, e o espanhol um gabarolas, como todos os espanhóis. Mas quando perguntam ao nosso se também já teve “um caso”, ele responde com o imorredoiro verso: “Pode-se lá viver sem ter amado alguém!” Depois, passando aos pormenores, descobre-se que só o português (tinha de ser) amou à séria. O cardeal da peça sucumbe, choroso, à memória do amor frustrado. O padre Rui, esse, redime-o hoje. E a nós todos, nestas vésperas de nascimento do Menino. A própria Igreja mal esconde o seu sorriso benévolo perante o amor dos dois jovens. E como não? Ao descobrir esta nova vocação, o padre Rui (bonito nome, por sinal) deu-nos ainda, coisa não de somenos, uma razão mais para acreditar em Fátima…

Rui Zink
in Metro, ano 6, n.º 1111, de 2009-12-02
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