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terça-feira, 10 de julho de 2007

ARS LITTERARIA (2) : Auto das Danações

Quem disse que os livros estão caros, é porque ainda ignora a meritória intervenção social (porque não dizê-lo, dado que as obras do seu catálogo rondam apenas 3 € cada) e, é claro, também cultural, da editora Apenas Livros (pela criteriosa selecção de autores pouco comerciais/comercializados, mas de inquestionável qualidade).

Desta vez o destaque vai para a sua publicação mais recente - o Auto das Danações, do poeta Jorge Castro - uma obra de teatro com cordel (vejam para crer), retomando uma tradição poético-jocosa de crítica social e política, que remonta pelo menos aos autos vicentinos, mas que se prolonga pela commedia dell'arte e pelo teatro de António José da Silva ("O Judeu").


Segundo o próprio autor «(...) a inefável São Rosas, lançou-me, há uns meses atrás, um desafio que consistia em produzir um Auto, à moda de Gil Vicente, mas com a envolvência de personagens da "pós-modernidade". Daí nasceu o "Auto das Danações", a minha obra mais recente, uma vez mais contando com a alegre e interessada edição da Apenas Livros, Lda., que acedeu, até, ao despautério de alinhar numa edição especial [...]. A tanto chegou o espírito de colaboração...»


E no prefácio da obra, abre as hostilidades, sem cerimónias:

«Versalhada em um acto, que o tempo não está para desperdícios que não atem nem desatem. Tendo Gil Vicente como fonte cristalina, fresca e exemplar nessa arte de bem zurzir quem o mereça, apreciando de viés o que o mundo nos mostra e tentando entrever o que ele nos esconde, assim foi concebido este Auto. Será Auto de notícia que, se a vossa benevolência o permitir, ficará para o porvir como retrato a preto e branco, não revelado, isto é, em negativo, deste nosso tempo. Não é todo o mundo – ou até tão só todo este nosso aprazível recanto - feito destas graças e desgraças. Mas muito dele é assim feito, por defeito, por acaso ou por conveniências. De qualquer modo, os retratos foram tirados a personagens da nossa praça, envoltos num caldo de cultura que, também esse, tem tonalidades muito nossas e entranhadas.Há, como se presume, na massa do ilustre sangue lusitano, alguma valentia sorna, contraposta aos brandos costumes – que tanta vez escondem a hipócrita ou cínica violência - que nos moldam e por quem nos deixamos moldar e que, misturados no cadinho da vida, motivam esta tão peculiar forma de estar, sem paralelo mundial – pelo menos, tanto quanto diviso daqui da minha rua…» / Jorge Castro, Abril de 2007"

Deste teatro-poesia de escárnio e [bem] mal dizer, que se presta a ser lido e não "apenas" representado estamos todos necessitados, e por isso aqui fica o desafio aos leitores (o autor gostaria também do vosso feed-back, e por isso nos deixa o seu contacto: jc.orca@gmail.com ).
Por outro lado, sugerimos aos profissionais da arte de representar que não percam a oportunidade de (re)pegar num texto carregado de ingredientes para um grande sucesso de bilheteira (hélàs, a estreia absoluta ocorreu "por Caria"). E, para lá do teatro de "carne e osso", a peça presta-se igualmente à representação com bonifrates, assim como a ser músicada em género de opera bufffa (alô José Eduardo Rocha, se não fizeres tu farei eu, assim o dramaturgo, ou melhor, o comediaturgo, o queira).

Venham mais peças, Jorge! Sem esquecer a poesia, claro está!

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